O legado
- nabbyamm
- 20 de mai. de 2015
- 3 min de leitura

No obituário publicado por Woodworth (1959), afirma que os principais temas estudados experimentalmente por Watson foram: o desenvolvimento comportamental em relação com o desenvolvimento neurológico no rato branco; os sinais sensoriais utilizados ao aprender a mover-se em um labirinto; o papel do sentido sinestésico no controle do comportamento; a visão das cores em várias espécies de animais; os "instintos" das andorinhas-do-mar; e o desenvolvimento emocional precoce da criança.
Nesse último ponto, Watson realizou vários trabalhos sobre a origem das emoções, afirmando que três delas são básicas: o medo, a raiva e o amor, das quais derivam as outras, em estágios posteriores de desenvolvimento. Embora no estudo experimental das emoções tenha se avançado muito desde a época de Watson, sem dúvida seus estudos ainda são parcialmente válidos na atualidade.
Podemos acrescentar à descrição de Woodworth sobre as contribuições de Watson relacionadas com a psicologia aplicada, as pautas de educação das crianças, a educação em geral, a publicidade, a eficiência, a modificação do comportamento e outros temas afins. Podem ser mencionados ainda seus estudos sobre linguagem e pensamento.
Entretanto, o mais importante é sua conceitualização a respeito da psicologia como ciência do comportamento, como um campo de pesquisa de problemas objetivos que estão no mundo real, e sua luta contra as especulações de qualquer índole. Provavelmente o principal livro publicado a respeito de Watson e sua obra é Modern Perspectives on John B. Watson and Classical Behaviorism (TODD; MORRIS, 1994). E quanto ao condutismo no momento atual, o livro de García Cadena (2007), Introducción al Conductismo Contemporáneo.
O que ficou hoje de Watson e do Manifesto Behaviorista, 100 anos depois? Mantem-se a sua ênfase na psicologia como ciência natural (além de ciência social). Também sua definição da psicologia como ciência do comportamento, que é a mais utilizada em nível mundial. Permanece sua insistência na continuidade psicológica entre a espécie humana e outras espécies, sua crença nas aplicações atuais e potenciais, e suas contribuições para a tarefa de conseguirmos uma sociedade melhor. Pelo contrário, o estudo da consciência retornou ao "mainstream" da psicologia científica, embora não tenha ocorrido o mesmo com a introspecção como método primitivo para obter dados válidos. As ideias de Watson sobre a educação das crianças não sobreviveram às pesquisas posteriores e não têm muita validade. Seus estudos sobre as emoções, suas observações etológicas, as bases da modificação do comportamento que ele e sua esposa Rosalie Rayner propuseram, continuam fazendo parte do acervo terapêutico dos psicólogos clínicos do século XXI.
Watson foi um produto de sua época e do Zeitgeist,como somos todos os seres humanos. Mas também foi um homem que mudou o momento em que viveu, como muito poucos fazem. Um homem que lutou contra a corrente, teve uma vida cheia de altos e baixos, problemas, sucessos; uma vida intensa e variada. Sua avaliação histórica pode resumir-se nas palavras de Gustav Bergmann (1956):
Somente inferior a Freud […] Watson é a figura mais importante na história do pensamento psicológico durante a primeira metade do presente século […]. Entre os psicólogos, a sólida base que foi a contribuição de Watson aceitou-se amplamente; seus erros foram esquecidos […]. Watson não é somente um psicólogo experimental […], mas também um pensador sistemático […] um metodólogo. Foi nessa área que realizou sua contribuição mais importante (p.275).
Sendo assim, é um fato que sua obra deve considerar-se dentro de um contexto histórico, em uma linha de pensamento ampla, que requer avaliar criticamente todas as suas contribuições e separar o que continua válido do que foi um produto da época e do entusiasmo de seu criador, e não sobreviveu ao passar do tempo.
Fonte: http://www.revispsi.uerj.br/v13n1/artigos/html/v13n1a19.html
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